segunda-feira, 27 de agosto de 2012







                                     ENSEADA

Retenho a força anímica dos teus olhos
Enseada onde aporto minhas memórias esparsas
E me entrego à deriva, aos pensamentos sem velas e bússolas



Na proa das minhas incertezas, algo resiste, persiste
E teus olhos novamente me prendem tal qual força sobre-humana
Desconsertam-me e minhas verdades são então refutadas, rendidas

E assim adentro o mar aberto das lembranças
Despida de todas as minhas pórticas certezas, da minha vaga noção de realidade
Surjo absolutamente cativa, e tudo o mais é nada diante dessa força anímica

Enseada de doce miragem
Que tudo possa ser, quiçá...

infini aussi longtemps qu’il durera !






                                      A MENINA

              A menina espreita a púrpura do poente

              Descortina a janela da vida 
              E tudo é vasto, tudo é sutil movimento

              O som do vento propaga acordes indefectíveis

              Em notas cadenciadas de reverência
              E a menina espreita
              O mistério solene da vida, a perfeição do momento

              Tudo se entrelaça de modo singular,

              Desde o vôo do pássaro à imponente correnteza
              Tudo é impulso natural, em majestoso movimento
              E a menina espreita

              Todas as coisas são únicas no átimo de um segundo

              E a fugacidade do tempo não permite a repetição do quadro
              Eis a fragilidade exposta, doce mistério
              E a menina espreita

              Um dia alguém vai lhe dizer que sol e lua não andam juntos

              Do gesto inútil de tentar abraçar o intangível
              O tempo não conhece paredes
              Mas ainda assim a menina espreita

domingo, 26 de agosto de 2012








                                            ENSAIO


Este meu ensaio é curto, contrito de saudade
E neste arremedo de realidade, vivo assim:
Absorta no traçado das linhas, tentando tecer com letras o inexprimível
Rendo-me, jamais conseguirei descrever com absoluta precisão o delinear do teu sorriso, dos resolutos gestos
Só resta-me agora o derradeiro ato :
Sair de cena, desvencilhar-me da memória, desistir desta luta inglória com os traçados, e o mais improvável:
Tornar este ensaio mais conciso e furtivo do que deveria ser.