terça-feira, 19 de abril de 2011

HOJE...





A DANÇA -PABLO NERUDA

Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio
Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.


Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.


Antes de amar-te, amor, nada era meu:
Vacilei pelas ruas e as coisas.
Nada contava nem tinha nome.
O mundo era do ar que esperava
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se dependiam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo.
Caído, abandonado, decaído,
Tudo era inalianavelmente alheio.
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

domingo, 17 de abril de 2011

ACONTECEU..




Por que logo agora e em um contexto tão inimaginável, tão surreal? Quanto tempo esperei por isso, e tudo surge de repente à minha frente assim : tão claro e ao mesmo tempo tão absurdo.

Fecho os olhos sem qualquer pretensão e ...pronto! Tudo se delineia à minha frente, e agora é fato. Procuro encontrar dúvidas -numa tentativa vã de desconsiderar , de desconstruir com toda força a realidade que sinto, que vivencio - mas não as encontro... Se em algum momento da minha caminhada eu quis realmente ter dúvidas, que eu as ansiei com toda sinceridade, foi este; mas elas simplesmente não surgiram, como normalmente se esperaria que fosse nestas circunstâncias tão delicadas e peculiares.

Por que as coisas não poderiam ser assim tão mais fáceis e apenas mero fruto da imaginação? Por que essa sensação é tão real, real ao extremo que chega a ter forma, cores, sons..chega a ser quase tátil..

Por que sensações e sentimentos longíquos são despertados, recordados com tanta força e de forma tão inesperada, sobretudo em circunstâncias onde deve imperar o bom senso, a razoabilidade..?

Seria mais fácil seguir o meu caminho assim: não desperta, verificando que tudo não passa de uma imaginação um tanto "ativa", mas tudo vai se sucedendo de tal forma, se encaixando de forma milimétrica sem qualquer interferência ou vontade minha...simplesmente as coisas vão fluindo e se acomodando devagar no seu devido lugar, de maneira tal como se fosse necessário ocorrer desta forma para que eu possa perceber e compreender com mais clareza, sem atropelos e com serenidade, como se assim devesse ser..

       Não sei se fico alegre ou triste...
Não sei se rio ou se choro...
                                 Não compreendo, ainda, o propósito disto tudo...

                               Como é díficil entender os desígnios de Deus ...




sexta-feira, 15 de abril de 2011

ELIS ...


Gosto de diversas cantoras, em especial as de jazz, mas quando escuto Elis Regina...Ah, quando escuto a Elis é outra coisa...

Só Elis consegue me transportar, ela simplesmente me arrebata.

Elis canta com os poros, sua voz é intempestiva, é visceral, é instintiva. É como se Elis não fosse gente, é como se toda ela fosse só voz, música.

Como estou "toda" Elis hoje, rss, posto este vídeo em homenagem a ela:




Hoje estou leve. Completamente leve. Acordei assim; com essa sensação concreta, absurdamente real de leveza, despojada de qualquer culpa, de qualquer sentimento mais abjeto, mundano. É realmente algo curioso, pois experimento a sensação de não estar aqui, tudo adquire leveza, não só o meu corpo como também o meu pensamento.É extremamente agradável a sensação, já que me sinto inteiramente à vontade nesta condição; tão à vontade que me sinto como se estivesse regressando às minhas origens, à minha condição natural, sinto-me em total sincronia com o universo, nada me aflige ou perturba, não há conflitos internos e externos.  Estou segura, em paz. Sinto-me em harmonia com a natureza, com as pessoas e sobretudo comigo mesma. O mais interessante, porém, é que estou particularmente amorosa hoje, "tomada" de amor por tudo o que me cerca, em estado de total encantamento, especialmente pelas pessoas - inclusive com aquelas pelas quais nunca tive empatia- não  sinto rejeição a nada nem a ninguém. Não há mágoas ou raiva, apenas sinto amor por tudo o que me cerca sem esperar qualquer acontecimento ou desdobramento disto, apenas deixo fluir, me arrastar por esta sensação tão boa que me afasta -não sei por quanto tempo - da minha fragilidade humana, das tantas coisas de menor importância e sem significado real. Nunca antes havia me dado conta - pelo menos não dessa forma, não de forma tão expressiva - o quanto o amor é transformador, o quanto de força transformadora carrega em si, pois é capaz de transpor obstáculos, romper barreiras de tempo e espaço, superar diferenças abismais.

Sei que não permanecerei neste "estado" permanentemente (infelizmente) e que - é fato- tudo voltará a ser denso novamente ( Por que sou tão sujeita às vicissitudes ? Por que "tropeço" tanto mesmo tendo exata consciência do que posso fazer ou evitar para não tropeçar ? Por que dou tanta importância às palavras àsperas se sei que tudo passa, tudo uma hora passa e não há mágoa ou ressentimento que seja interminável?), mas algo verdadeiramente bom "aconteceu" em mim e prometo não fechar a porta se quiser voltar...